O que é a Etnomatemática?

Para falar no assunto, irei expor um resumo do texto de Ubiratan D’ Ambrosio, entitulado: “O Programa Etnomatemática: uma síntese.”
Segundo o autor, Etnomatemática não é uma disciplina, é um conceito e uma proposta dinâmica de inovação em respostas as necessidades naturais, ambientais, sociais, culturais, que dá espaço para a imaginação e a criatividade, sendo uma pedagogia viva. Essa proposta busca não cometer os mesmos erros da educação tradicional e das teorias congeladas nos livros por anos, que pregam que o aluno deve ser capaz de repetir o que outros já fizeram. Consiste em observar as práticas de comunidades e populações distintas e analisar suas ações e justificativas destas ações. Nesta metodologia, utiliza-se a observação, a literatura, leitura de diários e periódicos, cinema, jogos, coisas que fazem parte do cotidiano do aluno.
Ao ensinar em uma comunidade afastada ou com uma cultura só dela, não se pode chegar com um plano de trabalho pronto, produzido em outra realidade e o impor aos educandos. É necessário construir este plano naquele ambiente, considerando os conhecimentos prévios dos alunos. Ao mesmo tempo em que se busca ensinar matemática evitando um choque cultural, há necessidade de oportunizar desenvolvimento útil para a vida em comum, na sociedade moderna. Esta característica é comum a todos os países e consequência do mundo globalizado.
A Educação Multicultural deve ter como objetivo que o indivíduo quando retorne a sua comunidade, possa levar comunicação com a classe dominante. Para isso, é preciso esquecer aquela teoria do aluno como papel em branco. As experiências e conhecimentos prévios dos alunos tem valor pois são dele, são culturais. Nunca se deve orientar um indivíduo a rejeitar ou esquecer as coisas que sabe, suas habilidades. Deve-se sim, apresentar métodos de solucionar problemas, contas, mas o aluno decide qual utilizará.
Quando o professor não conhece a realidade de seus alunos, é difícil reconhecer suas possibilidades e capacidades, e muitas vezes, o professor comete o erro de tomar sua realidade como ponto de partida para o desenvolvimento de seus alunos, que não vivem nesta. Para conhecer o aluno, é preciso dar a voz a ele, a todos os alunos, trabalhar com situações reais, não aquelas elaboradas com uma resposta pronta.
O autor fala que ao se trabalhar em outras comunidades existe um esforço em utilizar instrumentos intelectuais e materiais para trabalho da cultura dominante. Ele dá como exemplo a implantação de uma escola em uma comunidade indígena. Neste caso, existe progresso em lidar com os instrumentos intelectuais, mas com os materiais há resistência. Salas de aula, lousas e carteiras geralmente são uma violência com a comunidade indígena, porque estar sentado, imóvel, em ambiente fechado, não é favorável a criatividade.
O ensino de Matemática não pode ser reprodução, os alunos não procurarão soluções antigas em problemas novos, este tipo de prática forma alunos passivos, sem criticidade, subordinados a classe dominante. Assim como outras disciplinas, o ensino da Matemática deve estar pautado na criatividade, na curiosidade, para que seja significativo e traga a criticidade, um “letramento matemático”. Este ensino pode ser ruim quando faz com os indivíduos se tornem passivos, os levando a perder sua criticidade e até os alienando. O currículo escolar, com suas práticas, regras e provas, podem trazer esse resultado ruim. Ele ressalta que há pouco a Educação Libertadora, proposta por teóricos, incluindo Paulo Freire, atingiu a Matemática.
O autor cita Hans Freudenthal, um dos mais importantes matemáticos do século XX, sua forma de enxergar a história da matemática como algo integrado e alertava para o conhecimento de outras culturas tratado como curiosidades no canto de um livro didático, descontextualizadas de sua realidade cultural, o que vivemos hoje.
O texto é concluído com a afirmação da possibilidade de tornar a matemática atrativa aos alunos, sem distorções e que contextualizar não torna nada impreciso ou menos verídico, rigoroso. O autor fala que a transferência de conhecimentos é muito mais complexa que a instrução, e que esse é o grande desafio que justifica o Programa Etnomatemática.

REFERÊNCIAS
AMBROSIO, Ubiratan D’. O Programa Etnomatemática: uma síntese. Acta SCientiae, Canoas. v. 10, n. 1. P. 7-16. Jan/Jun. 2008.

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