Biografia de Esopo e algumas de suas fábulas mais conhecidas!

Busto de Esopo
Busto de Esopo localizado em Roma.

Quem não ouviu, quando era criança, algumas fábulas antes de dormir? Essas narrativas curtas, seguidas por uma lição de moralidade, fazem parte do imaginário coletivo e atravessaram séculos até alcançarem os dias de hoje.

Esopo foi um fabulista grego, nascido na Trácia (região da Ásia Menor), do século VI a.C.. Personagem quase mítico, sabe-se que foi um escravo libertado pelo seu último senhor, o filósofo Janto (Xanto). Considerado o maior representante do estilo literário “Fábulas”, possuía o dom da palavra e a habilidade de contar histórias curtas retratando animais e a natureza e que invariavelmente terminavam com tiradas morais. As suas fábulas inspiraram Jean de La Fontaine e foram objeto de milhares de citações através da história (Heródoto, Aristófanes, Platão, além de diversos filósofos e autores gregos).

As primeiras versões escritas das fábulas de Esopo datam do séc. III d. C. Muitas traduções foram feitas para várias línguas, não existindo uma versão que se possa afirmar ser mais próxima da original. Destaca-se, entre os estudiosos da obra esopiana, Émile Chambry, profundo conhecedor da língua e da cultura gregas. Em 1925 o escrito Chambry publicou, Aesopi – Fabulae (Fábulas de Esopo), contendo 358 fábulas atribuidas ao grande mestre das fábulas.

Artistófanes também confirmou a mesma tese de Heráclides e deu pormenores do ocorrido: Esopo, ao visitar Delfos, provocou os habitantes argumentando que eles não trabalhavam, viviam apenas das oferendas dedicadas ao deus Apolo. Furiosos, os habitantes plantaram na mala de Esopo uma taça sagrada. Quando o furto foi descoberto, Esopo recebeu uma punição fatal: foi atirado de um rochedo.

Conhecemos o trabalho realizado por Esopo graças ao grego Demétrio de Falero (280 a.C.), que reuniu, no século IV a.C, as histórias contadas. O monge bizantino Planúdio, também reuniu, no século XIV, outras tantas narrativas.

O que são as fábulas?

A fábula veio do conto, e se diferencia dele porque o contador explicita nela uma lição de moral. As fábulas também possuem frequentemente apenas animais como personagens. A esses animais são atribuídas características humanas.

As fábulas foram criadas no Oriente e se espalharam ao redor do globo. Acredita-se que o percurso tenha sido da Índia para a China, então para o Tibete e depois para a Pérsia.

Dizemos frequentemente que a origem das fábulas foi a Grécia porque lá as histórias ganharam os contornos que conhecemos hoje.

As primeiras fábulas registradas são do século VIII a.C. O primeiro volume encontrado (Pantchatantra) foi escrito em sâncrito e depois foi traduzido para o árabe.

Esopo foi um dos mais famosos contadores – embora não tivesse sido o inventor do gênero nem sequer das histórias que contava – e ficou famoso por ter difundido o gênero.

Não sabemos ao certo quantas histórias chegou a criar, foram encontrados uma série de manuscritos ao longo do tempo, embora seja impossível garantir a autoria. O maior especialista na produção de Esopo foi o professor francês Émille Chambry (1864-1938).

Leia e relembre algumas das fábulas mais conhecidas do autor:

A lebre e a tartaruga

A história que será contada a seguir é um clássico de Esopo que foi recontado por La Fontaine, outro grande impulsionador da divulgação das fábulas. A lebre e a tartaruga é uma típica fábula: não se sabe quando o evento se passou, nem onde, e os personagens centrais são animais com características humanas – têm sentimentos, falam, possuem consciência.

— Tenho pena de você —, disse uma vez a lebre à tartaruga: — obrigada a andar com a tua casa às costas, não podes passear, correr, brincar, e livrar-te de teus inimigos.

— Guarda para ti a tua compaixão — disse a tartaruga — pesada como sou, e tu ligeira como te gabas de ser, apostemos que eu chego primeiro do que tu a qualquer meta que nos proponhamos a alcançar.

— Vá feito, disse a lebre: só pela graça aceito a aposta.

Ajustada a meta, pôs-se a tartaruga a caminho; a lebre que a via, pesada, ir remando em seco, ria-se como uma perdida; e pôs-se a saltar, a divertir-se; e a tartaruga ia-se adiantando.

— Olá! camarada, disse-lhe a lebre, não te canses assim! Que galope é esse? Olha que eu vou dormir um pouquinho.

E se bem o disse, melhor o fez; para escarnecer da tartaruga, deitou-se, e fingiu dormir, dizendo: sempre hei de chegar a tempo. De súbito olha; já era tarde; a tartaruga estava na meta, e vencedora lhe retribuía os seus deboches:

— Que vergonha! Uma tartaruga venceu em ligeireza a uma lebre!

MORAL DA HISTÓRIA: Nada vale correr; cumpre partir em tempo, e não se divertir pelo caminho.

A lebre e a tartaruga

A cigarra e a formiga

A história da cigarra e da formiga talvez seja a mais famosa e difundida fábula de Esopo. A narrativa breve, de apenas um ou dois parágrafos, traz dois animais antagônicos como personagens: a formiga, símbolo do trabalho e do empenho, e a cigarra, representante da preguiça e da displicência. Enquanto a formiga pensou no longo prazo e trabalhou durante o verão para se abastecer no inverno, a cigarra, imediatista, passou o verão a cantar, sem pensar na estação que viria a seguir.

A cada bela estação uma formiga incansável levava para sua casa os mais abundantes mantimentos: quando chegou o inverno, estava farta. Uma cigarra, que todo o verão levara a cantar, achou-se então na maior miséria. Quase a morrer de fome, veio esta, de mãos postas, suplicar à formiga lhe emprestasse um pouco do que lhe sobrava, prometendo pagar-lhe com o juro que quisesse. A formiga, que não é de gênio emprestador; perguntou-lhe, pois, o que fizera no verão que não se precavera.

— No verão, cantei, o calor não me deixou trabalhar.

— Cantastes! tornou a formiga; pois agora dançai.

MORAL DA HISTÓRIA: Trabalhemos para nos livrarmos do suplício da cigarra, e não aturarmos a zombaria das formigas.

A cigarra e a formiga

O leão e o rato

A fábula do leão e do rato ensina o leitor sobre o ciclo da generosidade e o valor da vida em comunidade. Quando o rato precisou de ajuda, o leão o acudiu, algum tempo a seguir, quando foi a vez do leão estar em apuros, o rato esteve lá prontamente disposto a o amparar. A fábula nos estimula a praticar o bem e ensina que um dia podemos ajudar e no dia a seguir seremos ajudados.

Um leão, cansado de tanto caçar, dormia espichado à sombra de uma boa árvore. Vieram uns ratinhos passear em cima dele e ele acordou.

Todos conseguiram fugir, menos um, que o leão prendeu embaixo da pata. Tanto o ratinho pediu e implorou que o leão desistiu de esmagá-lo e deixou que fosse embora.

Algum tempo depois, o leão ficou preso na rede de uns caçadores. Não conseguia se soltar, e fazia a floresta inteira tremer com seus urros de raiva.

Nisso, apareceu o ratinho. Com seus dentes afiados, roeu as cordas e soltou o leão.

MORAL DA HISTÓRIA: Uma boa ação ganha outra.

A fábula do leão e do rato foi adaptada para desenho animado e está disponível na íntegra com um total de sete minutos de duração:

O lobo e o cordeiro

No caso dessa fábula de Esopo, o cordeiro e o lobo ocupam posições opostas. Enquanto o cordeiro representa a inocência e a humildade, sempre tentando justificar e contornar os problemas que lhe são apresentados, o lobo é símbolo da crueldade e da maldade.

Estava um lobo a beber água num ribeiro, quando avistou um cordeiro que também bebia da mesma água, um pouco mais abaixo. Mal viu o cordeiro, o lobo foi ter com ele de má cara, arreganhando os dentes.

— Como tens a ousadia de turvar a água onde eu estou a beber?

Respondeu o cordeiro humildemente:

— Eu estou a beber mais abaixo, por isso não te posso turvar a água.

— Ainda respondes, insolente! — retorquiu o lobo ainda mais colérico. — Já há seis meses o teu pai me fez o mesmo.

Respondeu o cordeiro:

— Nesse tempo, Senhor, ainda eu não era nascido, não tenho culpa.

— Sim, tens — replicou o lobo —, que estragaste todo o pasto do meu campo.

— Mas isso não pode ser — disse o cordeiro —, porque ainda não tenho dentes.

O lobo, sem mais uma palavra, saltou sobre ele e logo o degolou e comeu.

MORAL DA HISTÓRIA: Tentar evitar o mal daquele que já decidiu cometê-lo? Perda de tempo!

A rã e o boi

A historinha da rã e do boi aborda sentimentos humanos frequentes como a inveja, a ira e a cobiça. Apesar de serem animais da floresta, as fábulas atribuem afetos humanos a seres animados e, muitas vezes até, inanimados. Nesse caso, a rã tem uma postura tipicamente narcisista ao tentar competir com o boi acerca do seu tamanho. O resultado final é trágico, mas a narrativa serve, de forma alegórica, como alerta para não alimentarmos sentimentos de disputa.

Uma rã estava no prado olhando um boi e sentiu tal inveja do tamanho dele que começou a inflar para ficar maior.

Então, outra rã chegou e perguntou se o boi era o maior dos dois.

A primeira respondeu que não – e se esforçou para inflar mais.

Depois, repetiu a pergunta:

– Quem é maior agora?

A outra rã respondeu:

– O boi.

A rã ficou furiosa e tentou ficar maior inflando mais e mais, até que arrebentou.

MORAL DA HISTÓRIA: Quem tenta parecer maior do que é se arrebenta.

A rã e o boi

A raposa e o corvo

A raposa é dos animais mais habituais nas fábulas de Esopo. Caracterizada pela sua esperteza atroz, a raposa frequentemente encontra soluções fora do convencional para conseguir aquilo que deseja. No caso da história da raposa e do corvo, vemos como a raposa, através da sua malandragem, rouba o corvo (que, por sua vez, já havia roubado um queijo). A história nos ensina os perigos da vaidade e da soberba. Pego pela armadilha pregada pela raposa, o corvo, convencido, perde aquilo que tinha e tanto desejava.

Um corvo roubou um queijo, e com ele no bico foi pousar em uma árvore. Uma raposa, atraída cheiro, desejou logo comer o queijo; mas como! a árvore era alta, e o corvo tem asas, e sabe voar. Recorreu pois a raposa às suas manhas:

– Bons dias, meu amo, disse; quanto folgo de o ver assim belo e nédio. Certo entre o povo aligero não há quem o iguale. Dizem que o rouxinol o excede, porque canta; pois eu afirmo que V. Exa. não canta porque não quer; se o quisesse, desbancaria a todos os rouxinóis.

Ufano por se ver com tanta justiça apreciado, o corvo quis mostrar que também cantava, e logo que abriu o bico, caiu-lhe o queijo. A raposa o apanhou, e, safa, disse:

– Adeus, Sr. Corvo, aprenda a desconfiar das adulações, e não lhe ficará cara a lição pelo preço desse queijo.

MORAL DA HISTÓRIA: Desconfiai quando vos virdes mui gabados; o adulador escarnece de vossa credulidade, e prepara-se para vos fazer pagar por bom preço os seus elogios.

As fábulas mais celebradas de Esopo

É difícil garantir quais foram as fábulas efetivamente contadas por Esopo na longínqua Grécia, uma vez que boa parte do que foi redigido perdeu-se ou não foi propriamente assinado, tendo sido conferido posteriormente a ele. Reunimos aqui algumas das fábulas mais famosas que são atribuídas ao maior contador de fábulas:

  • A raposa e as uvas
  • A tartaruga e a lebre
  • O lobo e o cordeiro
  • A formiga e o escaravelho
  • O asno e a carga de sal
  • O lobo e as ovelhas
  • O cervo e o leão
  • O cão e a sombra
  • O lobo e o cão
  • O cervo, o lobo e a ovelha
  • O lobo e a cegonha
  • A andorinha e as outras aves
  • O lobo e a garça
  • A raposa e o corvo
  • O leão, a vaca, a cabra e a ovelha
  • O asno e o leão
  • A rã e o touro
  • O cavalo e o leão
  • A porca e o lobo
  • A raposa e o leão
  • O rato e a rã
  • O galo e a raposa
  • O cão e a ovelha
  • A raposa e o corvo
  • As lebres e as rãs
  • A porca e a loba
  • O lobo e o cabrito
  • O cão e a sombra
  • O leão e o rato
  • A gralha e os pavões

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